Por Professora Sónia Frota, Lisbon Baby Lab (CLUL/FLUL) – Universidade de Lisboa
Investigação sobre o desenvolvimento da linguagem nas suas fases iniciais tem mostrado a relevância da identificação de sinais precoces capazes de prever o desenvolvimento da linguagem e comunicação em fases subsequentes. Ao longo do primeiro ano de vida, as capacidades perceptivas do bebé desempenham um papel decisivo na segmentação da fala, ou seja, na descoberta dos sons, sílabas, palavras da língua e suas combinações. Esta descoberta inicial desencadeia a aprendizagem de palavras e o processamento das frases (Figura 1). Dificuldades neste processo podem despoletar e acentuar perturbações da linguagem.
Apesar de ser bem conhecida a existência de perturbações da linguagem na Trissomia 21, surpreendemente estas estão entre as menos estudadas no quadro das perturbações do neurodesenvolvimento. A investigação existente tem incidido na qualidade vocal e nos desvios ao nível da produção da fala, não se centrando nas fases mais iniciais do desenvolvimento da linguagem e, em particular, nas capacidades de percepção de fala do bebé. O projecto Horizonte 21 apresenta um programa de investigação inovador ao focar-se nas capacidades para o processamento da fala dos bebés com Trissomia 21. O seu desempenho num conjunto de tarefas de percepção que testam capacidades iniciais para a segmentação da fala é observado através de métodos não invasivos, completamente seguros, que recuperam actividades e contextos que são familiares aos bebés. Por exemplo, o movimento dos olhos do bebé é registado durante a audição de sons e visualização de imagens (Figura 2), numa situação muito semelhante ao ver e ouvir uma história na televisão ou no computador. O padrão do olhar do bebé informa-nos sobre as suas capacidades de reconhecer e usar características da língua (como a proeminência das sílabas, a melodia das frases, as combinações de sons que fazem as palavras) fundamentais para o desenvolvimento da linguagem, antes do bebé produzir as primeiras palavras. Após a realização das tarefas de percepção, que ocorre entre os 5 e aos 24 meses, o desenvolvimento da linguagem em cada bebé é seguido até aos 30-36 meses, através do preenchimento, por parte dos pais ou cuidadores, de questionários de rastreio e avaliação especificamente adaptados para o estudo da aquisição da língua portuguesa, bem como de métodos de avaliação global do desenvolvimento.
As capacidades iniciais demonstradas nas tarefas de percepção são relacionadas com as medidas de desempenho obtidas em fases posteriores do desenvolvimento da linguagem, por exemplo, em relação ao vocabulário compreendido e produzido pelo bebé, ao momento em que começa a produzir palavras complexas e a combinar palavras em frases. Com este programa de investigação, é possível identificar que sinais precoces são preditores de perturbações em diferentes domínios da linguagem, bem como estabelecer as áreas fortes e as áreas fracas que caracterizam o desenvolvimento inicial da linguagem na Trissomia 21. Esta informação é crucial para a promoção de uma intervenção precoce, logo no 1º e 2º anos de vida, direccionada para áreas fortes que possam reforçar e desenvolver áreas menos fortes e para a prevenção de curvas de desenvolvimento menos favoráveis. Numa investigação feita com e para a sociedade, uma melhor compreensão do desenvolvimento da linguagem e suas perturbações visa potenciar as habilidades da linguagem e comunicação nas crianças e futuros jovens e adultos com Trissomia 21.
Para mais informação, consultar http://labfon.letras.ulisboa.pt/babylab/horizon21/